Há meio século, BEATO e MARVILA tinham a desgraçada fama de ‘fumarentos’, de tal maneira diferentes indústrias ali cuidavam em prosperar a favor do progresso e contra os pulmões. O bairro, típico q.b., passou do reboliço operário a um triste abandono à medida que Alfama se rendia reticentemente ao turismo massificado e o Parque das Nações repunha Lisboa Oriental no mapa mundial com a inauguração da Expo 98.
Em MARVILA e BEATO foi crescendo essa mal agoirada celebridade de ser lugar feito de velhas quintas e ruas de nenhures que tinham por ambição ir dar a qualquer lado. Um destino de gatos vadios, à medida que os censos populacionais indicavam o aumento de gente idosa que só ali parecia se auto-renovar e uma fuga despropositada de gerações jovens e voluntariosas. Esta era a desigual língua de terreno que Lisboa fazia questão de se esquecer de lembrar.
O cenário tem sido alterado nos últimos anos. A par de um crescimento imobiliário que já não tem pudor em viver escondido, BEATO e MARVILA começam a receber os frutos dos seus três fundamentais atrativos: à beira-rio tem uma impressionante linha de porto, é comparativamente barata (apesar de não haver salário mínimo que pague a renda, a dita é em média a mais barata da cidade) e a profusão de armazéns que restaram do declínio da desindustrialização é uma tentação irresistível para novos negócios.
Noite fora, é como se a ‘lata’ fosse uma matéria-prima. Bares, restaurantes ou complexos culturais da dimensão da Fábrica do Braço de Prata, funcionam entre luxo e rusticidade, para diferentes bolsas e intentos, por vezes ruidosamente como se em BEATO e MARVILA ninguém vivesse ou fizesse do bairro a sua casa. E passeando pela Rua do Açúcar, a Capitão Leitão ou a Alameda do Beato, há um tom de desertificação que é francamente enganador, mesmo que cada hipotética garagem seja do tamanho de um armazém.
O ‘truque’ de MARVILA e BEATO é inesperadamente simples: investir e confiar que a ‘Lisboa abarrotada’ ande farta de si mesma e que alfacinhas e quem mais estiver de visita saiba que, seguindo a linha do Tejo, há aqui lugares de exceção para comer, beber, visitar e fazer compras. E também como lugar de trabalho o bairro impressiona pela mistura de ousadia e ideias sãs, como é exemplo o complexo do Work Hub, feito de free lancers, pequenas empresas, gente criativa e o que mais faça do velho algo de novo, a começar pelo que lhe serve de morada, o mais belo edifício da Rua do Açúcar, antigo coração alfacinha do império vitivinícola da Abel Pereira da Fonseca.
Os visionários dos bairros de Lisboa já tomaram a decisão: o futuro da cidade é bem capaz de estar a sorrir a quem suspeita que há mais do que qualquer coisa entre o Parque das Nações e Alfama. E, pela certa, ainda tem tudo para valer a pena.
Visitar
Comer
Beber um copo
Fazer
Comprar
Gostou deste artigo? Veja também Os melhores restaurantes do Beato a Marvila