O universo turístico conhece-o apenas pelo número. O 28. É um ‘amarelo’, o tradicional eléctrico sobre trilhos. Aos lisboetas nunca ocorre fazer a viagem pelo prazer da dita, dos Prazeres e Campo de Ourique ao atarefado Martim Moniz a um passo do exaltante e criativo Intendente. À elegância quase intocada de Campo de Ourique segue-se a Estrela, o seu jardim de conforto e uma arquitetura que não desdenha sonhos de aristocracia. Tudo desemboca, numa sucessão de altos e baixos que só uma cidade inventada em sete colinas pode garantir, nas zonas de São Bento e Santos antes de voltar a subir pela Calçada do Combro e aportar ao Largo de Camões e com ele ao Chiado.
Há pelo caminho (sentindo os cheiros da cidade com a cabeça cautelosamente do lado de fora da janela do 28) um rol de comércio tradicional ainda sobrevivente, restaurantes de serviço rápido que nada têm a ver com a ‘fast food’, igrejas que se repetem nessa solidez imponente vinda do rescaldo do terramoto de 1755 e, acima de tudo, indícios da vida de bairro. O Chiado, claro, tornou-se um lugar muito agradável de passeio e que não desdenha da elegância do que ali estava antes do incêndio de 1988.
Mas o 28 escapa-se à direita via Teatro de S. Carlos e desce em rodopio à Baixa e à concorrida Rua da Conceição que ainda guarda pedaços do comércio familiar de tempos idos e que, sempre que possível, insiste em não se dar por vencido. Com o Terreiro do Paço à ilharga logo se sobe à Sé, porta-estandarte do bairro de Alfama e daí é um saltinho a miradouros onde o eléctrico gosta de parar a apanhar o fôlego, o Castelo de S. Jorge a um passo e mais ao fundo os sinuosos caminhos onde só cabe um 28 de cada vez que levam a S. Vicente e lá acima ao Largo da Graça antes de descer em rodopio ao Martim Moniz e dar por finda a viagem. É a parte onde o sentir bairrista é mais notado. Onde Lisboa marca a maior presença. E onde todos os caminhos parecem apontar para um miradouro.
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