Ararate: ida e volta à Arménia em 120 minutos

Foi uma viagem rápida a um país do qual pouco sabíamos. Tempo suficiente, contudo, para nos apaixonarmos pela fusão de sabores da sua cozinha. Saímos com o desejo de uma nova viagem, se não até ao Cáucaso, pelo menos até à Conde Valbom, onde se situa este novo restaurante de Lisboa.

“Querem vir conhecer o único restaurante arménio em Portugal?” Em resposta corremos primeiro para o mapa e depois para a memória arquivada de um país do qual pouco mais nos lembrávamos do que uma história longa e conturbada, um povo massacrado, e um colecionador de arte que ofereceu ao nosso país um dos seus melhores centros culturais. O convite prometia a prova de uma gastronomia que casa as diversas culturas que convivem nesta região do mundo: a europeia (mediterrânica) e a asiática. Haveria então lugar à mesa para  os legumes – com a beringela, o pimento, o tomate e a cebola a assumirem o protagonismo -, para as ervas aromáticas e os temperos exóticos, para o grão, o borrego, as espetadas. Irresistível, claro.

A aterragem

Na rua situada bem perto dos jardins da Gulbenkian, as imponentes portas de madeira abrem-se para um espaço amplo e luminoso, decorado com os tapetes que há muito os artesãos arménios tecem – um exemplar aqui presente reproduz aquele que será o mais antigo tapete do mundo. Somos recebidos com simpatia, à imagem daquela que na época dos Descobrimentos deu origem a uma aliança entre os dois povos e à consequente abertura aos nossos navegadores das portas para o Oriente. Quatro séculos depois, é a vez de Karine Sarkisyan apresentar ao povo luso as tradições do seu país. Faz-se acompanhar de uma equipa essencialmente arménia, onde o jovem chef Andranik Mesropyan assume o protagonismo e tudo faz para reproduzir com a máxima exatidão a experiência de uma refeição no seu país de origem.

À mesa na Arménia

Os pratos com nomes impronunciáveis desfilam perante os nossos olhos. Felizmente fazem-se acompanhar de imagens e de uma detalhada explicação em português. E se restam dúvidas, lá está o solícito empregado de mesa a explicar e a aconselhar. Bem orientados, pedimos para provar o khachapuri barco (8,5€), um pastel tradicional recheado de queijo fundido e gema de ovo, que chega à mesa ainda com a gema inteira e que é mexida à nossa frente como se de uma açorda se tratasse. Cortado às fatias, a escorrer queijo e sabor, não podia ser mais guloso.

Segue-se o dolmá (16€), um prato feito de pequenos rolos de folha de videira recheados de vitelão picado, uma feliz conjugação de uma ligeira acidez das folhas com o aveludado da carne e do seu molho.

Como prato principal elegemos o patuk (16€), uma sopa de grão e borrego servida numa caçoila com uma tampa feita de um pão achatado, que é aberta já na mesa para deixar emanar todos os odores aí contidos. Deliciosa e reconfortante.

A refeição já vai longa, mas é impossível resistir a uma das sobremesas. Pedimos o gata, um leve bolo de massa folhada, recheado com uma mistura de açúcar, manteiga e farinha.

Para acompanhar faltou o vinho arménio, infelizmente esgotado. Voltaremos certamente para provar o vinho de romã, que o gerente, Paulo Marques, elogiou. Tal como voltaremos para provar o caviar de beringela, as espetadas, grelhadas no carvão, ou o esturjão e a truta no forno, ou ainda o ensopado de borrego, tudo sempre acompanhado do lavash, o pão finíssimo, sem levedura, que é tradição neste país. Haja, para isto tudo, muita companhia, porque a mesa arménia quer-se farta e diversificada. E, claro, o bári akhorjak, ou seja, o bom apetite.

 

Ararate
Av. Conde Valbom, 70, 1050-099 Lisboa
(+351) 925 451 509
Segunda a sábado, das 12:00 às 24:00 (a cozinha fecha às 22:30)
https://ararate.pt/

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