CORAÇÃO DO DOURO, DETÉM O FORAL MAIS ANTIGO DE QUE HÁ MEMÓRIA E GUARDA HISTÓRIAS DOS ILUSTRES E DOS HOMENS COMUNS QUE, COM DESMEDIDA RESILIÊNCIA, AJUDARAM A TRAÇAR UMA REGIÃO.
A centralidade e relevância de S. João da Pesqueira na Região Demarcada – a primeira do mundo – apresentam-na hoje como visita obrigatória para todos os que pretendem degustar os melhores vinhos do DOC Douro e, claro, do Porto, sendo este concelho o seu maior produtor.
Nobres, notáveis, homens de fé (a comunidade judaica e cristã-nova deixou um incontornável legado em S. João da Pesqueira) e homens de força desmedida para domar um “Rio de Mau Navegar” – como durante séculos foi conhecido o Douro – passaram pelas ruas de S. João da Pesqueira e nelas ergueram palácios brasonados, igrejas seculares e deixaram os mais importantes fragmentos da história de uma região.
Os poderosos Távoras eram os senhores da vila, o Marquês de Soveral, diplomata mais famoso de Portugal e figura central nas relações Portugal/Inglaterra nasceu ali, e o Marquês de Pombal estudou no Convento de S. Francisco.
Situada na Sub-Região Cima Corgo, a toponímia da sede de concelho está associada a uma aldeia piscatória que se situava nas proximidades do mítico Cachão da Valeira (onde perdeu a vida Barão de Forrester e quase se perdia Antónia “Ferreirinha”), sendo que a pesca fluvial era uma fonte de rendimento extra de muitas famílias, ainda que o rio Douro desafiasse continuamente a habilidade dos arrais, mestres do icónico barco Rabelo.
A travessia perigosa do Douro motivou uma profunda religiosidade popular, pelo que, no topo de colinas, ergueram-se santuários. O mais emblemático é o de S. Salvador do Mundo (precisamente sobre o Cachão da Valeira). Considerado o maior santuário da região, S. Salvador do Mundo é constituído por um conjunto de capelinhas que se erguem ao longo do monte, remontando as mais antigas ao século XVI.
Tendo o rio Douro como raiz e identidade, a agricultura é a principal atividade económica do concelho, ocupando mais de metade da população ativa. Na agricultura, a vinha assume uma importância vital. Cerca de 90% da atividade económica do concelho assenta na vinicultura. Os vinhedos, ora verdejantes ora da cor do barro, deixam-se moldar aos olhos dos turistas, que se perdem e se apaixonam pelas povoações pitorescas, encravadas nas encostas.
S. João da Pesqueira detém cerca de 20% da área classificada como Património Mundial pela UNESCO e, atravessado pela E. N. 222 – eleita “a mais bela do mundo para conduzir” – o concelho é um verdadeiro mapa dos tesouros edificados pelo homem em constante diálogo com a natureza ao longo de mais de sete milénios.
Mas nem só de vinho vive o homem. Bordando encostas e socalcos do concelho de S. João da Pesqueira, as oliveiras usufruem aqui condições únicas para produzir azeites de excelência. Já as amendoeiras em flor acompanham as viagens em direção à primavera no Douro. Também a maçã, a laranja, a castanha e o mel têm relevo em S. João da Pesqueira, criando um mosaico de culturas agrícolas, que espelha a verdadeira essência do Douro e se reflete à mesa.
Nela, o cabrito assado no forno é o prato-rei. Destacam-se também o fumeiro, os biscoitos económicos, a bola de amêndoa e o bolo preto de Ervedosa do Douro. Não obstante, a gastronomia de S. João da Pesqueira tem nos vinhos o seu porta-bandeiras. E, para os honrar, João da Pesqueira celebra, no primeiro fim de semana de setembro, a Vindouro – Wine & History – Festa Pombalina, a maior e mais antiga festa do vinho da região. Este evento é o arranque oficial das vindimas que são, precisamente, o fechar de um ciclo. A colheita das uvas é uma herança familiar – que carinhosamente se preserva, em S. João da Pesqueira. Faça as malas, pise as uvas, beba o vinho – brinde a S. João da Pesqueira.