PORQUE QUALQUER ALTURA É BOA PARA TER NOVAS EXPERIÊNCIAS E CONHECER LOCAIS MARAVILHOSOS, RECOMENDAMOS QUE “VIVA CASTANHEIRA DE PERA TODO O ANO”.
São dois montes gémeos. O Trevim eleva-se a 1205 metros de altitude, num perder de vista que alarga o horizonte para lá de Coimbra, até ao mar de Figueira. Do cimo do Cabeço do Pereiro, a 1150 metros, vê-se a cordilheira de serras do Açor à Estrela.
Das neves de inverno, recolhidas e armazenadas em poços, fabrica-se o gelo, servido como sorvete e em bebidas refrescantes na corte e nos botequins de Lisboa. Estamos em 1786, quando Julião Pereira de Castro, neveiro-mor do Reino, manda edificar a capela dedicada a Santo António.
Pintada nos tons primaveris de amarelo e roxo, laboriosas andam as abelhas entre as flores da carqueja e da urze no fabrico do precioso néctar, que leva no rótulo a denominação de origem Mel da Serra da Lousã. Noutros tempos percorriam as encostas das serranias do Coentral e da Lousã numerosos rebanhos. O cabrito assado e a chanfana fazem parte da rica gastronomia da região, mais as couves aferventadas e as castanhas dos fartos soutos de outrora. Das lãs teceu-se o progresso da indústria de Castanheira de Pera.
Descendo o vale, deixando o Santo António da Neve para trás, correm nas Quelhas, abaixo dos passadiços, as águas cristalinas em cascatas, que juntamente com as do Cavalete e do Coentral dão vigor ao caudal da Ribeira de Pera. São dezenas os açudes que na força motriz das levadas faziam mover os rodízios e as rodas hidráulicas de antigos moinhos, lagares, pisões e fábricas.
Em 1881, a indústria de lanifícios empregava cerca de 1000 operários, produzindo tecidos finos de grande qualidade, como os da Fábrica dos Esconhais, fundada por António Alves Bebiano, visconde de Castanheira de Pera, além dos buréis, surrobecos, mantas, xailes e barretes.
Fazendo uso da mais moderna tecnologia têxtil, a Albano Morgado S.A. mantém a secular tradição da transformação das lãs na região. E é em Castanheira de Pera que continuam a ser fabricados, no antigo tear circular já centenário, herança viva da arqueologia industrial que a autarquia pretende transformar em museu, os tradicionais barretes de lã: o verde, do campino ribatejano e o preto do pescador, também usado pelos pastores e os camponeses de outros tempos, como os vemos nos retratos etnográficos dos trajes tradicionais e no bailar do folclore.
Nesta terra de encantos, as lendas são a história e o nome dos lugares. Fugindo da clausura do castelo de Arouce (Lousã), ia a princesa Peralta no encalço do seu amado quando o infortúnio de morte levou da vida a sua aia. Do epitáfio gravado na pedra quebrada da sepultura ficou apenas Pera – não do fruto, mas do nome da princesa.
Saídos da aldeia de Pera, segundo a tradição, a mais antiga do vale da ribeira que leva o mesmo nome, chegamos ao Bolo, a tempo de um refrescante mergulho na Praia Fluvial do Poço Corga. Se gostar de águas ondulantes e muita diversão, a Praia das Rocas é um oásis na serra a cerca de 80 km do mar!
Se preferir o verde da natureza, aventure-se pelos trilhos e percursos pedestres entre a Serra e a Ribeira ou surpreenda-se nas magníficas paisagens sonoras da brama dos veados em meados de outono.
Se aprecia a tranquilidade da leitura de um bom livro ao ar livre, desfrute da luz, dos cheiros e dos sons do Jardim da Casa da Criança Rainha D. Leonor, depois de uma visita à sala de exposições da Casa do Tempo, ali ao lado, seguido de um passeio pelas pitorescas ruas da vila, antes ou depois de jantar. Sugestão do chef: tibornada de bacalhau bem regado com azeite do lagar tradicional de prensas do Bolo.