Temos tudo o que é bom. Mesmo onde vemos defeitos, o turismo planetário só vê qualidades. Ao longo de 2018, Portugal colecionou prestigiados prémios internacionais – Lisboa ganhou o “Oscar “de melhor destino turístico do mundo, a Madeira destino insular, Lisboa foi considerada pela PwC a melhor cidade para investir na Europa e Portugal é o 4º pais mais seguro do mundo.
Os melhores restaurantes e hotéis? O destino de férias perfeito? Os preços baixos e os altos níveis de segurança? Os óptimos vinhos, a excelsa doçaria e essa simpatia paciente com que os portugueses ainda acolhem os visitantes? Entre organizações internacionais de turismo, revistas, blogues e demais sítios na Internet, votos de especialistas ou de comuns viajantes, está estabelecido o consenso: Lisboa é a melhor cidade do mundo e Portugal não tem no mundo outro país que se lhe compare.
É claro que blogues há muitos. E publicações ou instituições que fazem as suas listas e confirmam os seus rankings de maneira diferente e com resultados distintos. Mas as constantes vitórias de Lisboa, Porto, Açores, Madeira e do país inteiro têm fixado Portugal no mapa da excelência turística nas variadas categorias que convencem o viajante a sair de casa, visitar o nosso país e jurar a pés juntos que não pensa noutra coisa que não seja regressar ou até ter casa permanente por cá.
Onde famosos destinos de veraneio têm sofrido revezes no fluxo turístico à conta do terrorismo e da ineficácia com que ele é combatido, Lisboa e Portugal oferecem um ‘registo limpo’ e uma sensação de segurança que nos coloca no top 5 dessa lista. Também por isso, são lugares privilegiados de eventos internacionais. Lisboa é o exemplo perfeito e o mais concorrido. A Web Summit veio para ficar, instituições que mapeiam as realidades económicas garantem que Lisboa é a melhor cidade para investir em 2019 e celebridades fazem de Lisboa a sua casa (a cantora Madonna é o mais badalado dos casos) dando à capital portuguesa uma publicidade que mal há dinheiro que pague.
A ideia é ter todos os argumentos na mão para convencer os que duvidam que Lisboa e Portugal têm o melhor do nosso mundo e tudo o que há de melhor no mundo de quem nos visita. Que somos um destino de férias ou passeio cosmopolita e ‘very typical’ ao mesmo tempo, que aliamos a genuinidade bairrista ao último grito da moda, que somos ousados, criativos e tradicionais até nos ‘twists’ com que moldamos as tradições. Os hotéis são premiados, o mesmo se passa com os seus campos de golfe ou o empreendedor enoturismo, os restaurantes são ‘michelinizados’ com estrelas, as praias erguem bandeiras azuis, o património de nove séculos de História espalha-se em monumentos e museus e, como recentemente escrevia em jeito de aviso a Conde Nast Traveler: ‘Lisboa por ser o a capital europeia mais na moda, mas para lá dela há um Portugal igualmente incrível, cheio de lugares de visita obrigatória’.
E mesmo assim, para os portugueses há uma pergunta que não nos sai da cabeça: com tantos prémios à escala planetária, o que é que aquilo que os estrangeiros vêem em Portugal e Lisboa tem a ver com aquilo que a gente vive em Lisboa e Portugal?
Bem pode Portugal orgulhar-se de ter tudo o que é bom, de na última década ter tornado o bom ainda melhor, de perder o estigma do país escondido ou da nação de serviços com o formato geográfico de um balcão de praia onde a Europa vem a banhos, a comes e bebes. Temos tudo e, à nossa maneira, ainda parecemos uma aldeia a fazer tudo para ter todas as qualidades das grandes cidades e nenhum dos seus defeitos. Ainda não dominamos a arte de evitar que o preço a pagar por tudo isso não seja demasiado alto: que o que é típico e nosso cá dentro se substitua por tudo o que é igual, ‘fast’ e sem graça lá fora. Que o que é tradicional se torne sinónimo de oferta cara, serviço desleixado e, inevitavelmente, de monotonia e desconfiança para o visitante. Que isto de darmos ao turista o que ele já tem em casa mas em versão de aldeia não é fartura que mate a fome.
Portugal está na moda, é verdade, mas só são baratos por comparação. Há quem saiba como fazer render a genuinidade, há a ganância de ganhar a dobrar hoje o que se investiu ontem, um sistema de transportes públicos francamente caricato, uma burocracia que se contada ninguém acredita, um sistema falhado de sanidade das ruas e um rol de tantos outros defeitos que leva a que qualquer lisboeta se pergunte onde é que os estrangeiros vêem as qualidades. Mas lá que as há, há…
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