UM RESTAURANTE QUE ENTRE BOA COMIDA E GRANDES VINHOS FAZ JUSTIÇA AO QUE ALENQUER TEM DE MELHOR PARA DAR E VENDER
A estrada é sinuosa e de algum aperto, a que distante 15 km de Alenquer leva à aldeia de Atalaia. No Restaurante Páteo Velho manda a proprietária Milá Veloso, mas nas mãos do chef José Mártires fica a excelência da comezaina. Há orgulho da terra metido ao barulho: uma nova garrafeira inclui todos os produtores de Alenquer, neste ano em que a vila a par de Torres Vedras se torna Cidade Europeia do Vinho. Os amigos vindos à jantarada dão de caras com uma impressionante prova de vinhos, devidamente apresentados por um produtor local. E o que não chegar à mesa pode sempre ser levado para casa, de bom e barato, em saudável relação qualidade/preço.
A fumegar de apetite e sede abrem os amigos a contenda com um espumante bruto da Sociedade Agrícola Felix Rocha, colheita 2011, que nesta jantarada parece ter nascido para acompanhar pela mão umas cascas de batatas com maionese de trufas. Antes que o sabor assente já chegam à mesa as línguas de bacalhau e o polvo frito em farinha de milho com maionese de ervas. O polvo estava no ponto (e quem já o tenha tentado cozinhar em casa sabe da dificuldade em acertar em cheio…) e devidamente sustentado por um Quinta Algarve Novo , aroma frutado com toques de lima e uma acidez nascida para ter boas saídas com as entradas.
Voltando aos ‘comes, atiram-se os amigos aos Ovos Rotos com Ovos Moles, digeridos na companhia do branco Empatia Vital , elaborado a partir da casta Vital, em tempos à beira da extinção e salva in extremis pela parceria da Adega Cooperativa da Labrugeira, da Câmara Municipal de Alenquer e do Instituto Nacional de Investigação Agrária. O tempo nem parece passar e já nos chega o prato de peixe, uma rica cataplana de peixe e marisco que nem parece querer sair â rua sem o conselho do melhor vinho branco da noitada, o Quinta do Lagar Novo, nectar cheio de personalidade e cor amarelo-palha. No nariz é fechado mas no paladar é intenso com notas a caramelo e fruta branca, boa acidez e excelente volume de boca que quase lembra um vinho tinto.
E as carnes, já se perguntavam os amigos à mesa? Abrirmos a contenda com um impressionante Wellington de perdiz com puré de castanha e cogumelos salteados. O tinto Vinha das Moças vinha no seu encalço e apanhou-nos… E é sempre sujeito de espanto esse bife Wellington revestido a pâté, massa folhada e duxelles, um preparado de cogumelos parisienses. Sobre o nome escasseia o consenso, mas rezam crónicas ao tempo das invasões napoleónicas da Península Ibérica que o bom do general inglês não queria comer outra coisa que não se servisse daquela receita. Verdade seja dita que depois da prova de brancos em crescendo se sentiu alguma quebra e este tinto merecia segunda oportunidade. Mesmo assim, um vinho potencial, que há-de melhorar em garrafa o seu aroma de frutos negros, paladar pouco complexo e final curto. Um vinho com corpo (14,5%) é bom vinho mas talvez não nos tenha sido apresentado na altura certa, que a perdiz merecia outro tipo de acompanhante.
E de repente chega à mesa e à festa o Galinhola 2012, vinho tinto da Sociedade Agrícola Cunha Forte, frutado e talvez um pouco fechado no nariz, mas elegante com toques balsâmicos. Um bom vinho bem conjugado. Que com tantas alegrias lá tem de chegar a hora do fecho, para tristeza dos amigos já prontos para por ali acampar ou gozar do descanso dos bons hotéis da região: uma bela escolha de Colheita Tardia da Casa Santos Lima, produzido a partir de uvas muito velhas, muito bem elaborado com notas de mel e citrinos, acidez no ponto em perfeita combinação com os prazeres das sobremesas regionais.
Páteo Velho e boa terra de Atalaia, o prazer foi todo nosso.
RESTAURANTE PATEO VELHO
Rua 25 de Abril, 25. Atalaia, Alenquer.
Telf. 263 760 466
Qua. a Dom. 11h-23h
Preço Médio: €25