A vida cultural e artística da capital portuguesa está prestes a levar um abanão. A EDP e a sua fundação reformularam o percurso expositivo da Central Tejo e prepararam o edifício do antigo Museu da Electricidade para albergar exposições de arte contemporânea. O novo museu tem agora o nome de Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT) e pretende ombrear com grandes instituições de arte contemporânea da Europa. Inaugura esta quinta, dia 30, com quatro exposições de arte contemporânea e um renovado circuito do antigo museu. Um projecto ambicioso cuja revelação vai ser progressiva.
A programação do MAAT vai ser variada e percorrer o caminho que liga a arte contemporânea ao mundo em que vivemos e os desafios que enfrentamos. Segundo Pedro Gadanho, director, vindo da curadoria do MOMA em Nova Iorque, além da contemplação estética este museu pretende despertar para temas de debate do presente. As obras de arte escolhidas e as exposições comissariadas terão então o objectivo de fomentar esse diálogo. Um museu interdisciplinar, com o filtro da arte contemporânea sobre as realidades da cultura urbana, da tecnologia, da arquitectura, da ciência, das culturas digitais.
Na perspectiva de fomentar a produção artística e cultural em Portugal, para além de convidar curadores exteriores ao museu (a exposição referente à colecção da Fundação EDP será sempre o olhar de um curador externo), o MAAT divulgará os artistas nacionais, dos mais jovens aos mais conceituados, em exposições colectivas e individuais (nomeadamente de meio de carreira) a um público que se espera alargado e composto substancialmente de estrangeiros. Tendo em conta o crescente turismo de “fim-de-semana” (os “city breaks”), ideal numa cidade com o tamanho e características de Lisboa, o museu pretende atrair este público, composto em parte por jovens cultos e interessados em arte e cultura contemporânea.
Daí que, para além do foco na produção artística nacional, o MAAT apresentará sempre uma exposição de carácter mais internacional, com artistas estrangeiros de renome, em exposições organizadas em parceria com outras instituições europeias, como é o caso de “Lightopia”, organizada em parceria com o Vitra Design Museum.
O preço inicial do bilhete, que dará acesso a todas as exposições, será de 5 euros, com previsão de aumento assim que o projecto esteja concluído (com a inauguração do novo edifício e a conclusão do campus), em Março ou Abril do próximo ano.
A programação já está delineada até 2019 e a actividade do museu será intensa: aproximadamente 18 exposições por ano, além das actividades paralelas.
DOIS PÓLOS, UM MUSEU
O MAAT vai ter dois pólos para a sua programação: o edificio da Central Tejo e um novo edifício projectado pelo atelier de arquitectura londrino Amanda Levete Architects. Com uma forma minimalista e ondulante, este edifício vai contrastar com a construção típica do século XX da central eléctrica, numa tensão entre indústria, tecnologia, funcionalidade e contemplação que vai ser espelhada também na programação do museu. Este novo espaço expositivo será complementar à Central e irá receber entre 1 e 3 exposições em simultâneo com esta. Será parcialmente inaugurado a 5 de outubro, com a abertura ao público de “Utopia/Distopia”, a primeira parte de uma obra concebida por Dominique Gonzalez Foerster especificamente para este edificio. A sua conclusão e abertura oficial está prevista para Março de 2017.
Situado na zona ribeirinha, este museu almeja ser um novo espaço público de Lisboa, que chame os habitantes e os turistas à beira do Tejo, pelo que todo o percurso pedonal vai ser redesenhado e ajardinado, para criar uma zona de lazer nova na cidade.
A HISTÓRIA DE UMA CENTRAL, A CIÊNCIA DA ELECTRICIDADE
Dia 30 de Junho, na Central Tejo, que acolhe agora quatro galerias dedicadas à arte contemporânea, dar-se-á também a inauguração da reavivada exposição que já existia no museu anterior, respeitante à história da central e da produção de electricidade. O percurso e toda a linguagem gráfica desta foram optimizados na perspectiva de uma maior legibilidade, completude e clareza da informação. Das primeiras invenções de pioneiros cientistas até ao desenvolvimento das energias renováveis, esta exposição permanente, de grande pendor pedagógico, manterá viva a história do edifício e dos que lá trabalharam, e enquadrará as suas actividades no panorama mais alargado da evolução técnica e científica.
PARA INAUGURAR: A ARTE CONTEMPORÂNEA EM 4 TAKES
Serão quatro as exposições a inaugurar a programação do MAAT na renovada Central Tejo, e a estabelecer o tom do museu.
“Segunda Natureza” (29 Jun-11 Set, Central 2) teve a curadoria de Luísa Especial e Pedro Gadanho, lançado um olhar sobre a representação da natureza na arte portuguesa desde os anos 70 até ao presente, englobando diferentes suportes artísticos e contando com 50 obras de 26 artistas, entre os quais Alberto Carneiro, Michael Bieberstein, Paulo Catrica, Gabriela Albergaria ou João Queiroz. Temas como a relação entre o corpo e a natureza, ou entre a história individual e colectiva e os jardins, numa exposição que parte da discussão sobre o antropoceno (a nova idade da terra precipitada pela actividade humana). Esta será a primeira exposição com base na colecção da Fundação EDP, que estará sempre presente na programação do MAAT em exposições temáticas organizadas por curadores convidados.
Luísa Correia Pereira, “Divers chemins avec une forêt au centre”, 1970.
“Edgar Martins. Silóquios e Solilóquios sobre a morte, a vida e outros interlúdios” (29 Jun-16 Out, Cinzeiro 8) é uma nova etapa no percurso do conhecido fotógrafo português. Marcando a exploração de um novo tema, através de outros suportes para além da imagem fotográfica, esta exposição desenvolveu-se a partir da pesquisa que o artista fez durante três anos no Instituto de Medicina Legal e foi comissariada por Sérgio Mah. Um questionamento sobre a representação imagética da morte, tema recorrente desde que a humanidade começou a produzir imagens, situado nas fronteiras entre as imagens factuais e as ficcionais.
Edgar Martins, “Carta de despedida, da série Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, Vida e outros Interlúdios”, 2016 (Cortesia do artista e Galeria Cristina Guerra ContemporaryArt, Lisboa)
“Artist’s Film International” (29 Jun-16 Out, Sala das Caldeiras) marca o início da colaboração do MAAT com esta plataforma da galeria londrina Whitechapel, que junta 16 galerias na divulgação de obras de imagem em movimento (vídeo, animações). Cada galeria escolhe um artista do seu país e partilha a obra com as galerias participantes, que têm a liberdade de expôr as obras submetidas como entenderem. Pela primeira vez, esta iniciativa teve um tema, tecnologia, e no MAAT os públicos poderão assistir às 9 obras escolhidas na imponente sala das máquinas.
Institute For New Feeling, This is Presence, 2016 (video still)
Em parceria com o Vitra Design Museum, o MAAT traz a Portugal nomes sonantes da arte contemporânea, em torno da luz e das suas relações com o design, a arte e a sociedade. Com curadoria de Jolanthe Kugler, “Lightopia” (29 Jun-11 Set, Central 1), centra-se na revolução provocada pela introdução da luz elétrica na sociedade e no quotidiano, alterando as cidades, criando novas experiências de vida e de trabalho, espoletando o progresso industrial, científico e tecnológico e a criação artística. Organizada em quatro núcleos, compõe-se de mais de 300 obras, incluindo artistas como Olafur Eliasson ou Joseph Beuys e designers como Ingo Maurer.
Daniel Rybakken, Andreas Engesvik, “Colour Light für Ligne Roset”, 2011.
© Foto: KalleSanner und Daniel Rybakken
MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia
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