Vista de cima, ou ao longe, a cidade do Porto impressiona pela sua disposição à beira do rio Douro. Aproximando, assaltam a vista prédios antigos, de cores escuras, com fachadas assenhoradas e severas (isto se descontarmos a colorida Ribeira, claro). No entanto, apesar de estar à primeira vista imersa em passado, a cidade revela-se uma efusão de criatividade e contemporaneidade em todos os cantos, com uma cena artística que cada vez mais rivaliza com a da capital do país. Galerias, um museu de arte contemporânea com presença segura no circuito internacional e muita arte urbana, tornam o Porto definitivamente um destino a não perder para os amantes das expressões artísticas do presente.
TODOS OS CAMINHOS ARTÍSTICOS CONVERGEM PARA A RUA MIGUEL BOMBARDA
Falar de arte no Porto, equivale a falar desta emblemática rua, que tem funcionado ao longo dos anos como íman para artistas, colecionadores, curadores, jovens aspirantes e simples apreciadores. Todos os meses há diversas iniciativas promovidas pelas diferentes galerias, com destaque para as inaugurações simultâneas. A transformação desta rua recôndita em artéria artística remonta a 1993, ano em que Fernando Santos ali abriu a sua galeria homónima. Com o propósito declarado de apoiar novos artistas portugueses, este espaço foi o início de uma movida que até aos dias de hoje ainda se expande. Criada no Porto em 1995, a Galeria Presença mudou-se para a rua em 1998. Fez o ano passado vinte anos de atividade contínua, que contou com a divulgação de artistas de diferentes gerações e com propostas tão distintas como Helena Almeida, Vhils ou Jorge Queiróz. A Ó Galeria apresenta as suas paredes cobertas de cima a baixo por trabalhos de artistas nacionais e estrangeiros. Criada em 2009, é um espaço exclusivo para a ilustração. É prova da variedade que cabe na rua Miguel Bombarda, que com este projeto acolhe uma área de expressão artística cada vez mais em voga e com muitos jovens artistas promissores. O sucesso desta loja no Porto foi tão grande, que abriu uma homónima em Lisboa, em 2015. Também com réplica em Lisboa, a Galeria Quadrado Azul teve a sua primeira vida em 1986, no Porto, pela mão de Manuel Ulisses, apaixonado colecionador de arte. O catálogo de exposições da galeria, entretanto a morar na Rua Miguel Bombarda, já vai extenso, incluindo nomes como Alberto Carneiro, Antoni Tapiès, Álvaro Lapa, Paulo Nozolino ou Bruno Pacheco.
GALERIA NUNO CENTENO E SERRALVES: DUAS PARAGENS OBRIGATÓRIAS NO CIRCUITO ARTÍSTICO EUROPEU
No panorama das galerias portuenses, a Nuno Centeno é jovem, e talvez esteja aí o segredo do seu sucesso. Fresco na abordagem, espaço para vozes jovens mostrarem as suas propostas criativas e com um curador ao leme (que dá o nome à galeria) que já foi considerado por diversas publicações de destaque, como a artnet ou Apollo International Art Magazine um dos curadores europeus jovens de maior relevância.
Serralves, com os seus bonitos jardins e a arquitetura art deco da sua casa, oferece mais razões para se colocar o Porto no mapa internacional da arte contemporânea. Projetado pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira, o museu alberga diversas exposições de grande relevo no panorama artístico internacional. Por lá já passaram retrospetivas de artistas como Helena Almeida, Robert Mapplethorpe ou Cildo Meireles. A coleção da Fundação de Serralves inclui 4300 obras e ainda 5000 livros e edições de artista, com as obras mais antigas a datar da década de 60. Obras desta coleção são expostas ocasionalmente no museu, em exposições temáticas.
ARTE URBANA: ALGUNS ROTEIROS
E com a arte urbana, voltamos à Rua Miguel Bombarda. Nem só de galerias se faz a arte desta rua. Há também variados exemplos a céu aberto: D. Quixote e Sancho Pança, o primeiro mural de graffiti legal da cidade, da autoria de Mesk, Fedor e Mots ou diversas intervenções do inconfundível Hazul.
Na Rua das Flores, as caixas de eletricidade ganham vida com as obras de Costah, Godmess x Sem ou Bug Bolito, que se inspiraram nos dizeres, expressões e características da cidade para estas criações, das mais acarinhadas no roteiro de arte urbana da cidade.
Na Trindade, mesmo no parque de estacionamento do metro, um mural de 250 m ocupado pelas obras de Hazul e Mr. Deo dá à cidade um impressionante exemplo de intervenção artístico em espaço público. Altamente instagramável. Mesmo junto ao tabuleiro superior da Ponte D. Luís, um velho de cara simpática, convida à cidade. Este an.fi.tri.ão é um retrato do avô de Frederico Draw, o artista que assina esta obra. Mais de 3 mil azulejos se aglutinam para devolver uma pergunta à cidade: “Quem és Porto?” é uma das várias intervenções acutilantes de Miguel Januário na cidade, esta na fachada de um prédio na rua Rua da Madeira, um mural com 135 metros. Um pormenor, que não o é: estes azulejos apresentam as respostas de vários habitantes da cidade, compondo assim uma resposta coletiva da própria cidade. Em frente à Alfândega, num prédio em Miragaia, a arte inconfundível de Vhils marca presença na cidade: um mural com a sua técnica de eleição mostra um olho a vigiar a cidade e os seus afazeres. Por fim, um mural coletivo na Rua da Restauração, vai rodando, de ano a ano, as intervenções de diversos artistas, à volta de meia dúzia de cada vez.
Se razões históricas, culturais, gastronómicas e de lazer já não bastassem para garantir uma visita à capital do Norte, as expressões artísticas mais entusiasmantes do presente já seriam razão de sobra.
Artigo produzido em parceria com Ins Portugal