SE AINDA HÁ SINAIS DE UMA ESTRELA ‘ARISTOCRÁTICA’, A QUIETUDE SÓBRIA DE CAMPO DE OURIQUE BEM PODE FAZER-LHE FRENTE. E ALI AO LADO, AS AMOREIRAS APRESENTAM-SE COMO UMA COLINA QUE LEVOU O SEU TEMPO A ABRIR-SE À CIDADE. O PASSEIO VALE A PENA E O ESFORÇO COMPENSA.
Era comum definir ‘viver à Lapa’ como ser portador do estilo certo de viver em Lisboa. E no bairro da Estrela acredita-se que isso pode ser ensinado. É um lugar de classe e pose aristocrática, logo abençoado pela imponente Basílica da Estrela com o seu quê de barroco, o seu ‘je ne sais quoi’ de romântico. Em frente, um arremedo de ajardinado inglês, com coreto e tudo, lugar privilegiado de encontro e passeio. O Jardim da Estrela não se vê de todo o lado da cidade, mas só de ver a cúpula da Basílica logo nele se pensa, como símbolo de um bairro onde tudo parece estar no lugar certo.
E se a Estrela gosta de ser visitada, já em Campo de Ourique fica a sensação de estarmos a incomodar a tranquilidade do lugar. Não é que não tenha o sítio a sua dose de tráfego e edifícios de média altura a correr as ruas, mas há por ali uma hospitalidade, uma paz e um orgulho no que se tem para dar, sem um pingo de pompa ou monumentalidade, que faz do bairro uma ilha plantada numa colina. E da Tapada das Necessidades ao Cemitério dos Prazeres, o recolhimento escolhe em Campo de Ourique inesperados lugares. É afamado pelas suas pérolas gastronómicas, come-se bem e bebe-se melhor, que quando se vive para o prazer é mais sensato fazer as coisas a sério.
A dois passos, as Amoreiras vivem em dose dupla. Se os guias mal falam noutra coisa que não seja a importância ‘histórica’ do seu shopping de datada arquitectura, este é o bairro que tem em mãos a Mãe d’Água, reservatório e estação final do Aqueduto das Águas Livres, que serpenteia pela cidade e fora dela e lhe dava de beber em tempos de aguadeiros e soluções drásticas. E no Jardim das Amoreiras, um brilharete: o Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva.