O Banco de Portugal abriu o seu espólio criando o Museu do Dinheiro. A antiguidade da coleção, visível nas moedas e notas expostas, contrasta com a interatividade multimédia e a museografia moderna que foi instalada para uma maior aproximação ao público. Conhecer a história do dinheiro português, a forma como este evoluiu e a sua relação com as sociedades e o indivíduo, traçando uma linha do tempo, é a premissa deste museu. Em nove passos se faz esta descoberta: tocar, trocar, convencionar, representar, narrar, fabricar, ilustrar, testemunhar e revelar.
1º passo: Tocar
Entrando pela nave da igreja de São Julião, a visita inicia-se na zona dos cofres, numa enorme porta redonda de casa forte, que nos conduz à recepção. Um pequeno cofre, de grande profundidade, guarda uma barra de ouro. A experiência começa aqui, onde pode tocar-lhe, tentar levantá-la e sentir os seus 12,7kg nas mãos. Nas paredes, citando introdutoriamente um diálogo de Charles Dickens, surge a pergunta que traça a linha de pensamento do museu, o que é o dinheiro?
2º passo: Trocar
Na sala seguinte encontra-se o Hermes, uma escultura interativa, de formas modernas, que representa o deus grego do comércio e das trocas. Ao falar com os visitantes tenta realizar trocas diretas de “dinheiro” por bens que possam querer negociar com ele. Aprende-se que em diferentes tempos, nas várias culturas o objecto de troca assumiu outras formas como padrão. Nos vários cones que rodeiam este personagem é possível ver mais detalhadamente os diferentes “objectos/peças dinheiro” de que se vai falando.
3º passo: Convencionar
Neste próximo passo duas pequenas salas dão a conhecer a origem da moeda. Os primeiros exemplares eram originários da Lídia, atual Turquia, do século VII a.C. Com o crescimento das trocas comerciais e a colonização do mundo grego, a moeda difunde-se rapidamente. Expositores dão mostras dos primeiros exemplares gregos, romanos, chineses e até mesmo da própria Lídia.
Dois ecrãs, com imagens em 3D informam acerca dos diversos passos evolutivos das peças: o marcar de qualidade dos metais, o assumir da forma redonda da moeda (para facilitar o seu transporte) e a existência de “objetos moeda” (valiosos pelo seu material ou cunho pessoal).
Nos mostradores destacam-se os exemplares das primeiras notas criadas mundialmente na China, no período da dinastia Ming, e na Suécia, com valores em dalers. São grandes papéis, com textos escritos e assinados, como se fossem declarações.
Neste passo surpreende-nos o comprido mapa digital que preenche toda a parede de uma das salas. Controlado por três manivelas coloridas, movimenta um ponto em latitude, longitude e escala cronológica, dando informações acerca das diversas moedas, nas variadas partes do mundo. Uma atração de grande sucesso entre as crianças, que correm entre ele e os ecrãs de perguntas que se encontram espalhados pelas salas.
4ºpasso: Representar
Entrando num espaço de aspecto futurista, preenchido por tubos que parecem ensaios científicos, chegamos à sala do tesouro. É a etapa do representar: pedaços de histórias e acontecimentos políticos, económicos, sociais e culturais são reflectidos nas cunhagens e materiais. Entre moedas e barras de ouro, aqui encontram-se as peças mais emblemáticas da coleção. Destacam-se “o português”, o “oban” e as moedas visigóticas.
O ouro proveniente da costa africana tornou Portugal símbolo de prestígio a nível europeu. Grandes e cunhadas, “o português” eram as moedas de maior valor, sendo o seu peso correspondente à sua quantia. O “oban” era uma das formas de moeda metálica mais valiosas em circulação no Japão, entre o século XVI e XIX. Por sua vez, as moedas visigóticas traçam o testemunho de todos os reis visigodos que passaram pela europa.
A parte de animação deste espaço consiste num painel lúdico que reflete o visitante, permitindo-lhe não só tirar selfies envolvido por moedas, como através do uso do bilhete, apanhar a moeda que deseja ampliando-a e observando-a com maior pormenor. Esta é a atração dos adultos!
5º passo: Narrar
Subindo as escadas encontra-se uma das maiores salas deste museu. Em vitrinas de vidro que percorrem de forma circular toda o espaço, é representada através de moedas, notas, instrumentos de uso bancário e peças significativas da história dos bancos, a genealogia do dinheiro e da banca portuguesa. Desde os primórdios das trocas mercantes no território, passando pelas moedas de D.Afonso Henriques, até ao Euro em circulação nos dias de hoje, toda a história do país se encontra aqui exposta numa visão monetária. Num óculo que simula um miradouro sobre a cidade de Lisboa, é possível observar as diversas instituições bancárias pela cidade.
6º passo: Fabricar
Paralelamente ao espaço do passo anterior, do lado oposto da nave central da igreja, tem-se entrada na sala do fabricar. Igualmente de modo circular compreende-se cronologicamente a evolução das formas de fabrico do dinheiro, bem como das máquinas e dos materiais para a sua criação. Estão expostas as matérias-primas, os moldes e as peças dos evolutivos processos: fundição, cunhagem a martelo, fabrico industrial, mecanização de fabrico e produção do euro.
No que diz respeito ao Euro é interessante ver como é impresso e quais os processos de qualidade por que passa até entrar em circulação. A arte das notas é igualmente curiosa, pois a escolha das cores e dos desenhos nelas estampados é resultado de concepções de nomes artísticos relevantes.
Uma das mais concorridas interactividades encontra-se nesta sala: a selfie que permite imprimir a fotografia numa moeda. Não há criança alguma que não faça praticamente um álbum pessoal!
7º passo: Ilustrar
Num dos mais bonitos designs entre as salas deste museu, estão expostas notas de várias partes do mundo como verdadeiras pinturas. Desde as cores aos desenhos representativos da fauna, flora e elementos emblemáticos de cada país, tudo remete a obras de arte. O labirinto de colunas metálicas sobre um moderno mapa-múndi estampado em linhas metalizadas no chão, realça ainda mais a sua originalidade e acentua os seus encantos. Livros virtuais inseridos na parede permitem vê-las em detalhe.
8º passo: Testemunhar
Um enorme espaço onde colunas exibem depoimentos de pessoas comuns e personalidades, em ecrãs de tamanho real, faz desta a sala da partilha. Um ecoar de várias vozes dá-se num lugar vazio. São expostos os pontos de vista e as relações de cada pessoa para com o dinheiro na sua vida. Cada visitante pode gravar o seu testemunho em formato de vídeo e ser parte integrante desta sala.
9º passo: Revelar
A visita termina num segundo Hermes, que tem por fim revelar as transformações da capital. Pode observar-se nos óculos ao seu redor as recuperações feitas ao edifício do museu, bem como os contrastes entre a baixa pombalina e a Lisboa medieval.
Neste museu a aprendizagem torna-se diversão e a história funde-se com a modernidade. O próprio espaço escolhido para o sediar vive esta dualidade entre o novo e o antigo. A exposição é feita em ambientes modernos, de linhas simples e apelativas, inseridos na antiga igreja de São Julião, datada ao século XVIII. A recuperação arquitetónica e escultural desta igreja, que nela permitiu instalar diversos serviços do Banco de Portugal, levou à descoberta e ao estudo de parte das fundações de Lisboa: durante a visita pode-se conhecer parte da muralha medieval de D.Dinis, soterrada por 250 anos após o terramoto de Lisboa de 1755, classificada como monumento nacional.
Este é um lugar preparado para acolher miúdos e graúdos, repleto de conhecimento e brincadeiras. Junte a família e descubra um outro lado da sua história.
Carlota S. da Veiga
Antiga Igreja de S. Julião, Largo de S. Julião, 1100-150 Lisboa
(+351) 213 213 240
Quarta a sábado das 10:00 às 18:00
Site: www.museudodinheiro.pt