A GRAÇA ACREDITA SER TUDO O QUE O NOME INDICA, PRÉMIO PARA QUEM SOBE VINDO DE ALFAMA, SANTA APOLÓNIA, CHIADO OU MARTIM MONIZ E CHEGA A UM MIRADOURO DIFERENTE, ÀS JURAS DE AMOR DA MOURARIA E, DE ESGUELHA, A UM INTENDENTE QUE DITA TENDÊNCIAS.
Há quem comece pelas vilas (a Berta, a Sousa), devaneios operários com tanto de decoração quanto de arquitetura. Mas é difícil resistir às ambições palacianas que ainda se notam na forma como as casas se irmanam, como se ainda andassem em amparo depois do devastador terramoto de 1755.
Graça, Mouraria e Intendente não são bairros que estejam apenas perto uns dos outros como num abraço. Têm em comum a pacatez da vida, o reboliço do trabalho e uma maneira que é só deles de animar o descanso. Essa outra Lisboa continua no lugar, à vista das varandas da Senhora do Monte e da Graça. Mas para quem aqui vive há um sonho de aldeia, com toques de ruralidade a lembrar que é possível ser diferente numa cidade onde erradamente demasiados lugares são tomados como mais do mesmo, repetições ao ralenti e ‘déjà vu’.
Às terças e sábados, há alvoroço na Feira da Ladra enquanto a realeza sepultada escreve em mármore a História mesmo ao lado, em S. Vicente de Fora. No velho gueto de mouros livres se estende a Mouraria, orgulhosa de ter sido o lugar onde se inventou o Fado, ou pelo menos de cantar o feito da boca para fora. O comércio é tão local que passa por íntimo, que na Mouraria tudo é pessoal e transmissível e não é de estranhar que ao som de Mariza ou com saudades da Severa, o bairro desagúe no Martim Moniz, lugar por excelência da mistura de culturas, de sons e cores de África e Ásia.
Pela extensa e cada vez menos ‘cinzenta’ Avenida Almirante Reis se chega ao Intendente, lugar que deu a volta à má fama e hoje faz de alternativa de cultura e espetáculos, de animação apostada em que a noite e o dia se confundam sem que a modernidade convide a tradição para um duelo. Um rival para o Tejo, pois então. Que Lisboa nem sempre precisa de água para se fazer ao mar.