Ao ‘império’ dos restaurantes MONTE MAR faltou em tempos um poiso em Lisboa que deixasse à solta, por assim dizer, os peixes e mariscos à beira da água. É certo que o assunto tinha para alguns sido dado por resolvido com o estaminé do Mercado da Ribeira, tão achado ou perdido como os demais e o lugarejo no Centro Comercial Colombo, mas a clientela pedia mais: um arremedo de luxo no Cais do Sodré com vista para a Outra Banda e abrilhantado pela inevitável esplanada a um esticar de dedos do Tejo. Amontoaram-se os amigos e lá fomos ‘à pesca’.
O MONTE MAR começa por se ver forçado a sobressair. Vindo de Santos ou da estação ferroviária do Cais do Sodré, percorrer a Rua da Cintura do Porto implica passar por armazéns de grande e pequeno porte, albergando escolas de vela, casas petisqueiras, bares e discotecas, sempre com o ruminar das ondas cansadas a fazer de banda sonora. Ao nº 65, o restaurante faz-se notar ao ponto de nos fazer sentir cercados. Uma ampla sala de um padronizado bom gosto faz-se rival da grande esplanada atoldada em frente, rematada por balcão e cozinha a dois passos dos clientes.
Todas as críticas são benfazejas, fora as que se inquietam com o preçário. É preciso que se diga que o MONTE MAR é tecnicamente um restaurante de luxo à lusitana imagem e semelhança, mesmo que a esplanada viva sobre um estrado numa rua cujo alcatroamento e trilhos empedrados já viveram melhores dias. O serviço é impecável, cada funcionário a saber tudo da poda (ou da pesca, neste caso), incorrigíveis em simpatia e cuidados. Os produtos fresquíssimos e um saber de ofício em como os fazer chegar à mesa no ponto garantem o restante sucesso. O Tejo já está pago (ou assim julgamos), mas o MONTE MAR é um daqueles casos onde é a casa a acrescentar valor à localização.
Alapados à mesa é tempo de aberturas, entre queijos e presuntos, os verdes dos ‘Bens da Terra’, como lá os chamam e mariscada de arromba com ameijoas à Bulhão Pato e ostras de volume perfeito e sabor a condizer. Escusado será lembrar que a carta de marisqueira é vasta, seja ao natural, grelhada, ao vapor ou acoplada em doses generosas às açordas. A ementa de peixe grelhado ou a frito é substancial, mas para uma cambada de amigos o melhor é optar pelo peixe do dia, vendido ao quilo, assado à padeiro, grelhado ou ao sal. Em alternativa, é não deixar escapar os filetes de pescada com arroz de berbigão. É especialidade e um dos galhardetes do MONTE MAR.
Não se ficam a rir os carnívoros, apesar do menu que faz trabalhar os incisivos ser curto. O MONTE MAR tem um peito de pato que diz ser só seu e a posta mirandesa só vem à mesa a pedido de duas pessoas à vez, pelo menos. Por mais que tenha sobrado mar da ostra, isto não é ementa que se digira sem outros ‘bebes’. Os vinhos brancos apostam forte no Alentejo, enquanto os tintos se espalham em grande número pelo Douro, Dão e, em repescagem, os fulgores alentejanos. Para quem está a um tropeção de cair ao Tejo, o MONTE MAR tem uma surpreendente carta de espumantes, champanhes e portos, em flute ou cálice. A lembrar aos amigos que mesmo que toda a gente coma muitíssimo bem, há sempre um sacrificado que bebe água e em segurança rodoviária devolve os companheiros de tertúlia sãos e salvos a casa.
A cozinha fecha às 23h, mas no MONTE MAR a conversa continua a fluir ao sabor da corrente do rio. E assim é que deve ser.
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