Desde a chegada de Zarco até aos dias de hoje, a produção de vinho tem sido constante, a sua história por vezes com tantos socalcos como os relevos do terreno. O Vinho Madeira é o produto icónico e famoso mundo fora, mas as bebidas espirituosas (como a poncha) estão sólidas no cardápio e até os vinhos de mesa começam a ganhar reputação.
Descoberta em 1419, desde os primeiros esforços de colonização da Madeira se preparou o terreno para o cultivo de cana-de-açúcar, trigo… e vinho. Há registos que confirmam que já se exportava Vinho Madeira apenas 25 anos depois da chegada de Gonçalves Zarco e dos seus marinheiros. Europa, Américas e Índias foram os principais destinos de exportação nos séculos XVI a XVIII e é precisamente em Setecentos que a introdução do método de envelhecimento conhecido por ‘estufagem’ vai dar ao Vinho Madeira as características que hoje fazem a sua justificada fama.
O acidentado desenho do relevo torna a paisagem vitícola da Madeira particular e única, a começar pelas características do solo de origem vulcânica, o clima, a distância até ao mar e o modo de produção. A norte, Santana e São Vicente concentram o maior número de hectares de vinha. A sul, esse papel cabe prioritariamente a Câmara de Lobos. Na totalidade dos seus 500 hectares de vinhedo são produzidos vinhos com duas denominações de origem protegida: o DOP Madeira e o DOP Madeirense, bem como uma indicação geográfica protegida, a IGP Terras Madeirenses.
É o clima que dita a localização das vinhas. A norte da ilha, aproximam-se mais do mar e assim são plantadas até aos 450 metros de altitude. A sul, a cultura da banana é prioridade nas cotas mais baixas enquanto as vinhas se localizam nas mais altas, nunca a mais de 650 metros. A pedra basáltica sustenta os socalcos com uma inclinação entre 16% e 25% e a sua presença é bem visível na paisagem. A tais altitudes, a rega fica a cargo das levadas, sistema de condutas de água que já eram utilizadas no século XV, no início da colonização e que asseguravam o transporte da água das zonas mais altas para as mais baixas. O sistema é atualmente composto de 2150 km de canais e 40 desses km são túneis. A vindima ocorre entre Agosto e meados de Outubro e ainda hoje é exclusivamente manual.
Sendo trunfo e porta-estandarte dos produtos madeirenses, o Vinho Madeira tem alternativas espirituosas. O gin da ilha é de produção recentíssima, primeiro com o First Gin (o álcool vem da cana-de-açúcar) depois com o Canning’s, que inclui na ‘receita’ ervas da Floresta Laurissilva, e frutos da região. Em 2018 ganhou a Medalha de Ouro em prova cega no IWSO (International Wine and Spirit Competition). A poncha é a mais famosa das ‘espirituosas’. Reza que tinha ancestralidade remontando ao século XVI e começou a ser bebida massivamente na Madeira e Porto Santo a partir do século XIX. É feita de aguardente de cana (ou cachaça), açúcar e sumo de lima ou limão. Tem sabido proteger-se de alguma adulteração e acentuado o ‘sabor da Madeira’ com o uso da rum da ilha, a garantir que a poncha é tão típica quanto autêntica. As aguardentes da Madeira levam a histórias mais antigas e intrincadas. O termo ‘aguardenteiro’ (aquele que faz aguardente) já existia no século XVI e a bebida chegou a ter perigosa má-fama no século XIX, por oferta em demasia e consumo a condizer. A produção chegou a ser proibida e só recentemente a seleção dos fermentados e derivados a par de mais sérios métodos de fabrico têm devolvido alguma honradez à aguardente. Mas os alambiques caseiros ainda pingam…
Já os vinhos de mesa são de ‘invenção’ recente na Madeira e a produção tem florescido. São quase exclusivos das encostas norte da ilha, plantadas vinhas em parcelas pequenas e a exigir trabalho árduo. Brancos, tintos e rosés começam a construir uma reputação sólida.
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