Da Madeira se diz ser um jardim, a pérola do Atlântico e, na verdade, com uns 54 km medidos de Leste a Oeste e uns 23 de Norte a Sul, é uma gota no oceano com Porto Santo (37 km a Nordeste) a fazer as vezes de lágrima furtiva. É uma explosão florida de cores, com uma flora subtropical que mais parece de jardim botânico, encostas escarpadas dadas à vertigem, piscinas naturais, uma oferta hoteleira de grande qualidade e a fidelidade que lhe é prestada pelos turistas.
Bebe-se bem (da poncha ao resto), come-se melhor, planta-se intensivamente e colhe-se de igual modo, venham as glórias da terra ou do oceano, do açúcar, da banana, do vinho, dos bordados e de como levar o peixe ao prato. O que falta à Madeira? É bem capaz de não faltar coisa alguma.

Foto: Hugo Câmara
COMO CIRCULAR?
Dizem números e estatísticas que o grosso dos visitantes da Madeira chega pelo ar, aterrando no Aeroporto Internacional onde à saída um busto sorridente e estranhamente amarotado de Cristiano Ronaldo convida à primeira fotografia. Se o destino não for o Porto Santo (há voos diários e um ferry regular que leva duas horas e um quarto a partir do Funchal), está bem de ver que o turista rumará à cidade e capital deste arquipélago que é desde 1976 Região Autónoma de Portugal.
O normal é chegar ao Funchal de automóvel. Em rigor, esta é uma ilha que pelos constantes desafios das montanhas é feita para deslocações de carro para que, quando a Natureza nos chama, passe o termo, podermos parar, respirar fundo, encher os olhos e alma de uma beleza que faz de qualquer pessoa que não saiba da condição de viver rodeado de água um ilhéu em potência. Nas últimas duas décadas, a Madeira foi repovoada de túneis. Não há portagens, o que desde logo agrada aos continentais, mas as estradas que depois esventram as montanhas são feitas de engenharia ainda mais notáveis quando se olha para estranhos caminhos à esquerda da entrada dos túneis. De traço íngreme, quase suicidário, aqueles trilhos são as antigas estradas…
COM TANTO PARA VER
Ilha fora repetem-se as montanhas e os desfiladeiros, pequenas e grandes plantações de banana e demais frutaria dada aos trópicos. Da sobranceira Natureza olhando o oceano ou apanhando as estradas quase coladas ao Atlântico, há lugar para todos. Mesmo a imensa oferta hoteleira deixa espaço que chega e sobra para as vistas. Os madeirenses sabem receber bem e não veem nos visitantes qualquer espécie de rival ou inimigo.
As cidades, com o Funchal à cabeça, tentam tirar a melhor benesse do cosmopolitismo e esse proveito não tem de ser forçosamente financeiro. Em todos os concelhos da Madeira, no todo ou em parte, há visíveis esforços de preservação, restauro e sustentação da História, seja por via de monumentos ou edifícios religiosos, o poderoso artesanato, a variada gastronomia com uma presença vincada de produtos locais, essas ‘tertúlias de pé-na-terra’ que enchem cafés ou tabernas, a alegria cristalina das amizades, a honrada pacatez de nunca passar pela cabeça de um madeirense que vive isolado, à beira da água ou dependurado na encosta.
Porque o ilhéu sabe que a verdadeira Madeira não vive na cidade, exige esforço, pernas para subir picos, palmilhar ladeiras, perder-se nas levadas (1400 km de canais de irrigação que no passeio lembram trilhos paradisíacos onde o verde intocado e a água indomada se encontram), parar na ruralidade de aldeias e vilas e saber que não mói de arrepio ir a banhos todo o ano que o tempo para tanto há de ajudar.
E A CONVIDAR TODO O ANO
Desde que haja Natal e o Fim-de-Ano pareça deixar o resto do mundo às moscas enquanto o fogo-de-artifício dança no céu do Funchal, desde que fevereiro traga o Carnaval e maio a Festa da Flor, desde que o Atlântico traga o que faz bem e deixe o resto ao largo, desde que os amigos partilhem as ponchas e os turistas bebam o bom Madeira, desde que a comida saiba aos céus e aos madeirenses a terra demore o seu tempo até os semear, aqui vive-se bem e partilha-se. E não se vê maneira de que as coisas mudem. Seja bem-vindo!
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