ROTEIRO DAS CALDAS DA RAINHA: VISITAR, COMER, DORMIR E FAZER

NO DISTRITO DE LEIRIA, A POUCO MAIS DE UMA HORA DA LISBOA, DESCOBRE-SE UMA CIDADE QUE SE ORGULHA DE SER REFÚGIO TERAPÊUTICO E ARTÍSTICO. 

Parque D. Carlos I

Reza a história que, certo dia, a caminho da Batalha, a Rainha D. Leonor, há muito afligida por uma ferida que não sarava, terá aqui parado e confirmado as propaláveis maravilhas destas águas  termais, mandando erguer, no ano seguinte, um Hospital. Corria o século XV, e assim se apresenta, com toques de história de encantar, a fama das Caldas da Rainha, e a razão do seu nome.

O passar do tempo consolidou a vocação terapêutica desta localidade, e esta vocação fê-la crescer. D. Afonso VI foi responsável pela reconstrução e ampliação do hospital e a família real e a corte visitavam as Caldas anualmente. No século XIX, época áurea em toda a Europa para as estâncias termais, as Caldas não ficaram atrás dos destinos europeus mais reputados, sendo local de eleição da classe abastada.

A importância das atividades termais nas Caldas encontra o seu local de referência no Complexo Termal, que inclui o Hospital Termal e o Museu do Hospital e das Caldas da Rainha. Nestes espaços, mostra-se a história daquele que é o mais antigo hospital termal do mundo e das atividades terapêuticas ali praticadas ao longo dos tempos.

Complexo Termal das Caldas da Rainha

UMA GRANDE MONTRA DE ARTE

No magnífico Parque D. Carlos I, no centro da cidade, descobre-se um jardim romântico com a mão de um caldense ilustre, o arquiteto Rodrigo Berquó, responsável pela revitalização do parque.  No seu interior visita-se um dos espaços museológicos de nota da cidade, o Museu José Malhoa, que conserva uma importante coleção de obras do célebre pintor também aqui nascido. Este museu está instalado naquele que foi, na década de 40, o primeiro edifício criado de raiz com o propósito de albergar um museu em Portugal.

Museu José Malhoa

A ligação das Caldas da Rainha com a arte, e o seu rico legado para esta, descobre-se noutros espaços à volta do Parque, a pequenas caminhadas de distância.  É o caso do Centro de Artes que engloba quatro espaços: Atelier-Museu António Duarte, com uma coleção de pintura, escultura, desenhos e arte sacra, doada pelo escultor; o Museu Barata Feyo, que reúne as valências mais significativos deste escultor, como o retrato, a escultura oficial e escultura religiosa; o Atelier-Museu João Fragoso, com uma parte significativa da obra deste grande escultor da cidade e ainda um espaço de oficina que permite dar continuidade à sua produção artística; o Museu Leopoldo de Almeida que conta com um espólio rico, doado pelos herdeiros do escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975), entre os quais se inclui a artista Helena Almeida, conta com 285 esculturas e quase 900 desenhos.

Por falar em cerâmica, a seguir às termas, é a ela que deve a cidade a sua fama. No Museu da Cerâmica, instalado   no antigo Palacete do Visconde de Sacavém, rodeado por jardins com alamedas, canteiros, floreiras, lagos e um auditório ao ar livre, descobre-se uma coleção de loiça das Caldas e de outros centros cerâmicos portugueses e estrangeiros – numa viagem pela história desta arte que vai do século XVIII à contemporaneidade. Uma das razões de interesse deste museu prende-se com outro nome ilustre da cidade: aqui encontramos um conjunto de obras de Rafael Bordalo Pinheiro.

Museu da Cerâmica

Falar das Caldas é falar de Bordalo. A Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha foi por ele criada, em 1884, com a ajuda de Ramalho Ortigão, e tornou-se uma referência a nível mundial e os seus objetos um ícone da cultura portuguesa, presente em milhares de casas. Na Casa Museu de São Rafael, pode visitar-se uma exposição composta por peças criadas na fábrica ao lado e ficar com uma ideia da evolução da marca. E na loja também nas imediações, podem adquirir-se as coloridas loiças e cerâmicas.

Fábrica Bordallo Pinheiro

Prova do legado de Bordalo é a homenagem que se lhe presta pelas ruas. Espalhadas pela cidade, obras escultóricas à escala humana, tiradas do vasto imaginário do artista, surpreendem os transeuntes, naquela que se trata de uma verdadeira rota bordaliana, uma das formas mais divertidas de se conhecer o centro das Caldas.

GASTRONOMIA E LAZER

No coração da cidade, encontramos a Praça da República, também conhecida como Praça da Fruta. Com inícios que remontam ao século XV, este colorido mercado ao ar livre é o único que, em território nacional, se realiza diariamente. É montra da rica produção agrícola e gastronómica da região e local privilegiado para observar a Arte Nova nas Caldas. As fachadas românticas de azulejos circundam esta vibrante praça, que alberga ainda o histórico Café Central e a Capela de São Sebastião. Os interessados da Arte Nova podem partir da praça para a próxima Rua Dr. Miguel Bombarda, para poder apreciar mais exemplos deste movimento na chamada Rota da Arte Nova.

Praça da Fruta

Já os amantes do ar livre encontram na Mata Rainha D. Leonor, criada para proteger as nascentes de água termal que abastecem o Hospital, um local repleto de beleza natural, com as suas árvores imponentes e 17 hectares de ar puro e caminhadas refrescantes.

Voltando à gastronomia, esta apresenta duas grandes características. Por um lado, a riqueza da sua doçaria, que inclui a influência conventual, da qual as trouxas de ovos, cavacas e beijinhos das Caldas são exemplo. Por outro, a riqueza marinha dos seus pratos típicos, pela proximidade da Lagoa de Óbidos, que se mostra nas caldeiradas, no ensopado de enguia e nos mariscos.

Foz do Arelho

A proximidade é razão para prolongar uma visita a Caldas até à encantadora Praia da Foz do Arelho, com a sua Lagoa de Óbidos imponente, e aos seus Passadiços. Nas Caldas ou perto, nunca ficamos verdadeiramente longe do poder curativo das águas e da contemplação.

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